Boletim dos Trabalhadores das Tecnologias de Informação e Comunicação PortoPCP

Manifesto

2024-02-09 [ sector  ]

O avanço da tecnologia implicou o surgimento de novas profissões que, por vezes, parecem isoladas dos trabalhos mais “tradicionais” e nem sempre são compreendidas. Tais profissões, contudo, têm desafios e demandas laborais próprias que mostram a necessidade de uma luta organizada para que os direitos dos trabalhadores deste setor não sejam deixados para trás na corrida do avanço tecnológico.

Denunciamos a extorsão das consultoras de recrutamento, que retêm uma parte substancial do salário dos trabalhadores — que poderiam e deveriam receber integralmente a remuneração pelo seu trabalho caso a empresa assumisse as responsabilidades.

Denunciamos a precariedade propagandeada como “empreendedorismo”, na qual trabalhadores são contratados a recibos verdes, embora tenham os mesmos horários, responsabilidades e exigências que trabalhadores efetivos, apenas com menos segurança no seu vínculo laboral e menos garantias.

Denunciamos as plataformas digitais que licitam o valor do nosso trabalho como num leilão, onde o trabalho “por peça” é apresentado como uma ideia de liberdade, quando na verdade significa falta de compromisso por parte do empregador e falta de direitos para o trabalhador.

Denunciamos a terceirização e a subcontratação, práticas generalizadas no setor das tecnologias, que criam um poço sem fundo de exploração, no qual todos trabalham e contribuem igualmente, mas nem todos têm os mesmos direitos e remuneração.

Denunciamos a carga mental que transforma o turno de 8 horas num trabalho “24/7”, pois estar sempre atento às notificações, comentários e redes da empresa faz com que nunca seja possível “desligar” efetivamente do trabalho e manter o seu espaço pessoal. Com mais tecnologia, em vez de trabalharmos menos horas, trabalhamos mais.

Denunciamos os despedimentos em massa, glamorizados e justificados nas redes sociais, muitas vezes motivados não por déficit orçamental das empresas, mas sim por uma estratégia de excesso de contratações para manipular o mercado e evitar que “talentos” sejam contratados pela concorrência — tal como a criação de um exército industrial de reserva. São os nossos empregos, as nossas vidas, as nossas famílias — não somos marionetes para o plano de negócios corporativo!

Denunciamos a exploração disfarçada sob o eufemismo de “vestir a camisola”. Pedir pizza à meia-noite não compensa as horas extras de trabalho; aquele “team building” forçado que ocupa o teu tempo pessoal e o teu fim de semana sem remuneração e serve apenas para promover a empresa nas redes sociais; porque aquela consola na parede, que ninguém usa, não compensa a falta de direitos caso decidas ter filhos; porque as iniciativas de “diversidade” e “sustentabilidade” não passam de fachada para manter os trabalhadores ocupados com a imagem e publicidade da empresa, afastando-nos da luta organizada que realmente defende os nossos interesses e leva a cabo a transformação política.

Denunciamos que em Portugal existem profissionais ao melhor nível do mundo, mas mal pagos ou a baixo preço quando comparado com outros países.

Por tudo isto, é urgente e necessário lutar por melhores condições de trabalho no setor das
Comunicações, Tecnologia e Marketing*.

Se te identificas com o que aqui se diz, não estás sozinho.*

- Contamos contigo? Junta a tua à nossa voz!*