Boletim dos Trabalhadores das Tecnologias de Informação e Comunicação PortoPCP

Caracterização do Sector

2024-12-16 [ sector  ]

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), até janeiro de 2022, havia cerca de 220 mil pessoas a trabalhar na área das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em Portugal.

Desde então, tudo indica que este número cresceu significativamente, impulsionado pela demanda crescente por serviços e produtos digitais. Esse crescimento é notório em diversas áreas como desenvolvimento de software, análise de dados, cibersegurança, infraestrutura de rede informática, desenvolvimento web, design e multimédia, publicidade e marketing digital. A expansão do setor TIC não só reforça a economia no desenvolvimento de produtos digitais, mas também pode promover a inovação e a eficiência em outros setores, como a saúde, finanças, educação, turismo, entre outros. Tudo depende se é colocada ao serviço das pessoas e da sua qualidade de vida, ou, se por outro lado, o seu potencial é tornado refém de interesses corporativos e individuais.

A interligação das TIC com outros setores económicos pode ser crucial para a modernização e aumento de eficiência. Por exemplo, na área da saúde, a telemedicina e a análise de big data podem contribuir para o atendimento ao paciente e para a investigação médica. No setor financeiro, as transações são cada vez mais rápidas e seguras, embora a literacia digital apresente desafios geracionais, que importa apoiar e disponibilizar a uma parte da população, não acabando com outras formas físicas para realizar pagamentos.

Na educação, as plataformas de e-learning têm democratizado o acesso ao conhecimento, permitindo que pessoas de todas as idades e origens possam aprender de qualquer lugar.

A inovação é rápida, mas também chega na forma de exploração. A chamada de “digitalização da economia e da sociedade”, que tem impulsionado a necessidade de profissionais especializados em TIC, não os livrou da precariedade no trabalho. Este problema manifesta-se nas TIC na forma de contratos de trabalho temporários, trabalho a tempo parcial involuntário, baixos salários, falta de pausas, trabalho que os acompanha para as férias por ser possível ligarem-se remotamente, entre outros.

A precariedade no setor TIC é também resultado da rápida evolução tecnológica, que exige constante atualização de habilidades, a competição realizar-se a nível global, com pressão salarial de empresas de todo o mundo e a natureza volátil de muitos projetos de tecnologia que frequentemente dependem de financiamento instável. Mas em alguns países, quando comparado com a média salarial portuguesa — melhores salários também existem. Então, porque parece esta competição, em tantos casos, empurrar os salários para baixo? Podemos admitir que nem tudo é lei da concorrência.

Ao mesmo tempo que em algumas empresas deste setor, sobretudo as ligadas ao desenvolvimento de software, alguns salários são, realmente, superiores à média nacional, também é verdade que fortes investimentos internacionais são apátridas, fugindo facilmente para o outro lado do mundo, mesmo após usufruir de investimento públicos, nomeadamente ao nível da canção de infra-estruturas e benefícios fiscais.

No distrito do Porto, empresas como a Adidas (Maia) e a Farfech (Matosinhos), ainda muito recentemente — despediram centenas de trabalhadores, revelando a fragilidade de um setor que algumas vezes se apresenta como o criador de “empresas unicórnio” e gerador de milhões, que depois se esvanecem, deixando um rasto de desemprego e desilusão.

Além disso, o crescimento das plataformas de freelancing e economia gig (que opera com base em plataformas que servem de intermediário entre o prestador de serviços e o cliente final) tem contribuído para a insegurança laboral, onde muitos profissionais trabalham sem contratos formais ou garantias de estabilidade.

Para mitigar esses problemas, várias medidas podem ser consideradas. Em primeiro lugar, é fundamental a implementação de políticas públicas que incentivem a formalização do trabalho e ofereçam proteção social aos trabalhadores das TIC. Isso inclui a criação de legislação que assegure condições de trabalho justas e benefícios para trabalhadores independentes. Em segundo lugar, as empresas devem adotar práticas de recursos humanos que valorizem e retenham talentos, oferecendo oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo e planos de carreira claros. Por último, a educação e a formação contínua devem ser uma prioridade, com investimentos em programas de requalificação e atualização de habilidades que acompanhem as mudanças tecnológicas.

A evolução do setor TIC em Portugal representa uma oportunidade para o desenvolvimento económico e social do país. No entanto, é crucial que essa evolução seja acompanhada de esforços para garantir condições de trabalho dignas e justas para todos os trabalhadores envolvidos, também de modo a construir uma economia justa e sustentável.